Por Lima Rodrigues,
de Curionópolis (PA) Jornal.O Progresso
de Curionópolis (PA) Jornal.O Progresso
O sonho de milhares de garimpeiros foi pelo ralo abaixo, ou melhor, pelo túnel da mina de Serra Pelada, no município de Curionópolis (PA). A situação, que já era crítica, ficou pior ainda: a empresa canadense Colossus anunciou no dia 6 de janeiro de 2014, portanto na semana passada, a demissão de 400 funcionários que trabalhavam no projeto da mina em Serra Pelada , deixando apenas 15 funcionários da área de segurança para proteger as instalações do local.
A imprensa do Pará – jornais, blogs e rádios – destacaram a notícia esta semana, para desespero dos milhares de garimpeiros associados da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp).
O Blog do Zé Dudu (www.zedudu.com.br), um dos mais lidos do sul e sudeste do Pará, destacou no dia 6 de janeiro: “A Colossus, em profunda crise financeira, tentou um empréstimo junto ao BNDES para tentar equacionar suas contas e fazer os últimos investimentos visando o início da produção mineral, e ao que tudo indica este lhe foi negado. No (06) a empresa comunicou a demissão aos cerca de 400 funcionários que ainda trabalhavam no projeto em Serra Pelada , no município de Curionópolis. Ficarão apenas cerca de quinze funcionários da área de segurança. A alegação da Colossus é que com o insucesso do empréstimo não há mais dinheiro para os investimentos necessários e o pouco que resta será usado para pagamento das rescisões trabalhistas”.
Clima tenso.
O clima é tenso na área e uma invasão às instalações do projeto da mina de Serra Pelada pode ocorrer a qualquer momento. Os garimpeiros estão revoltados, e com razão, por sofrerem com tantas mentiras, roubos, desvios de dinheiro, embromação e desrespeito total a esta classe tão sofrida, que luta desde a década de 1980 para pegar no dinheiro do ouro e só sofre decepções a cada dia.
A Colossus repassava mais de R$ 300 mil por mês para a Coomigasp, mas até o final de 2012 o dinheiro entrava em conta particular de uma das diretoras da cooperativa e saía pelo ralo. Segundo o Ministério Público do Estado do Pará, foram desviados nos últimos cinco anos mais de R$ 50 milhões. Repito: mais de R$ 50 milhões. Para onde foi esse dinheiro todo? Em que foi aplicado? Quem desviou de fato?
Estas respostas o Ministério Público está investigando, com o apoio da Polícia Federal, e em breve terá as respostas para todas elas. Enquanto isto, garimpeiros vão morrendo, outros passando fome e outras necessidades em vários estados, especialmente no Pará, Maranhão e Tocantins, e ninguém faz nada. Só em época de eleição aparecem os salvadores da pátria para enganar os garimpeiros e anunciarem que vão resolver a situação, quando na realidade querem apenas votos das famílias dos humildes trabalhadores que entraram para Serra Pelada ainda no início da década de 1980, quando Serra Pelada era considerado o maior garimpo a céu aberto do mundo. Eram mais de 100 mil homens carregando sacos e sacos de cascalho nos ombros, subindo e descendo barrancos altíssimos e perigosos na esperança de conquistar o tão sonhado ouro. Muitos morreram em barrancos que desabaram e por lá mesmo ficaram seus corpos. Outros morreram antes mesmo de chegarem até Serra Pelada. Morreram de malária ou de picada de cobra ao cruzarem a mata com o objetivo de chegar até ao garimpo, conhecido como “Grota do Meio”.
Diretorias foram eleitas, invasões ocorreram mais de uma vez à sede da Coomigasp em Curionópolis, dinheiro desviado, gente assassinada e ninguém sendo preso ou punido pelos desmandos que afetaram e afetam diretamente milhares de sofridos garimpeiros. Nos últimos meses, a disputa ficou mais acirrada entre dois grupos e a Coomigasp passou a ter “duas” diretorias, sem que nenhuma, de fato, estava tendo moral para administrar a cooperativa.
Intervenção
Para conter toda esta bagunça, o Ministério Público do Pará solicitou e a Justiça de Curionópolis decretou a intervenção na Coomigasp no segundo semestre do ano passado. O objetivo era para que o jovem interventor Alexandre Mendes sanasse as contas da cooperativa e, após seis meses, promovesse uma eleição limpa e transparente para a escolha de uma nova e séria diretoria. Sem dinheiro, o interventor vem tendo dificuldade até mesmo para resolver as coisas básicas do dia a dia e pagar funcionários da cooperativa e fornecedores.
Conversei por telefone ontem com o interventor Alexandre Mendes. Ele disse que estava em Belém tratando de assuntos da Coomigasp e só falaria sobre a situação de Serra Pelada nesta quinta-feira quando retornasse para Curionópolis. Vamos tentar falar com ele hoje e trazer seus posicionamentos e esclarecimentos na edição de amanhã de O PROGRESSO.
Garimpeiros ouvidos por este repórter se mostraram indignados e tristes com toda esta situação. “É lamentável. Só tem ladrões e mentirosos roubando a gente. Nós, garimpeiros, estamos morrendo à míngua”, disse um garimpeiro, que preferiu não se identificar. Pelo jeito, o sonho de ficar rico com o dinheiro do garimpo de Serra Pelada acabou. O que é lamentável.
Investimentos
Foram mais de R$ 200 milhões (ou muito mais) investidos na mina, especialmente no megatúnel para extração do ouro da área do garimpo que, pelo jeito, agora vai virar uma obra faraônica no meio da selva amazônica se não houver uma ação dos governos federal e do Pará urgente para resolver o caso de Serra Pelada. Enquanto isto, aos garimpeiros só resta dizerem: “Senhor, rogai por nós”.
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